Sobre as mudanças do clima

Amanheceu chovendo e eu achei que ia ficar assim o dia todo, mas o sol abriu, só continua chovendo aqui dentro.
Aqui eu continuo com aquela sensação de encolhimento, de reserva, de querer morar dentro de uma foto da janela que emoldura a vegetação molhada, com gotas de chuva no vidro.
Mas aqui fora o tempo é outro. Chove mas faz calor, a calma de uma agenda parcialmente vazia é enganada por uma mente cheia, mas essa mente cheia não é suficiente para mover o corpo à ação.
A gente recorre à lembranças de outrora quando sempre se sabia para onde correr e hoje tudo parece tão dividido, compartimentado.
Talvez as memórias sejam boas justamente porque são apenas lembranças e, pro que passou, a gente sempre inventa uma moldura bonita que justifique a nostalgia ou um filtro desbotado que justifique a aversão…

Raquel Núbia

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Imagem: Pinterest

14 respostas para “Sobre as mudanças do clima”

  1. Curioso como a nostalgia tem o poder de fazer a gente sair do nosso corpo e voltar a um momento determinado e vivenciar aquela experiência novamente…. e como que súbito, voltamos ao nosso corpo e sentimos todo o torpor causado por aquela experiância.

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  2. Auspicioso texto. Você, auspiciosa também.
    Acredito que o fato de morarmos num país colorido (festeiro), os momentos de salutar melancolia (há um limite pra não virar o leite), os dias mais frios (inverno), mais cinzas, que são relativamente poucos, ou mesmo dias chuvosos (estes bastante presentes), nos faz viajar sem muita dificuldade. Viajar para dentro de nós mesmos. Então o que você escreveu é uma verdade inconteste.
    Agradeço pelos textos que você tem produzido. Isso é um bálsamo, acredite.
    Abraços no coração

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  3. “Talvez as memórias sejam boas justamente porque são apenas lembranças e, pro que passou, a gente sempre inventa uma moldura bonita que justifique a nostalgia ou um filtro desbotado que justifique a aversão…” poxa, muito bom!

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  4. Existiu um filosofo pré Socrático chamado Heráclito que dizia que “ninguém toma banho no mesmo rio duas vezes” Voce me fez lembrar essa passagem porque a janela é sempre a mesma. mas todos os dias quando olhamos pra ela, um sentimento diferente, uma visão diferente, um sentindo diferente. Belo texto!

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