Quantas vezes você já pensou em não ser você mesmo? Já pensou em tudo o que sente vontade e desejo de fazer e que por um motivo ou outro não consegue, não é capaz? Coisas simples, do dia a dia, comuns a tantas pessoas, em tantos lugares, mas que parece sempre tão custoso, tão difícil?
Venho aprendendo e reaprendendo contínuas vezes que a gente só deve depositar nossas expectativas, sentimentos e emoções na gente mesmo. É triste mas necessário lembrar que grande parte das pessoas nos enxergam somente como uma parte de seus jogos e seus interesses, que nos solicitam quando essa conveniência acaba, tudo o que se passou é jogado num limbo até que sejamos necessários novamente.
Às vezes temos sido depósito para que as pessoas despejem sobre nós suas frustrações, preocupações e tristezas se reenergizando para prosseguir com suas vidas junto às pessoas de seu cotidiano, após transferirem suas bagagens.
Mas como culpá-los se as pessoas só depositam em nós aquilo que permitimos?
Sentindo aquela desconfiança que a gente sente quando as coisas estão dando certo, quando a gente pode dizer que está satisfeito, talvez até mesmo chamas de felicidade. Se a felicidade não precisa ser uma ausência de problemas, uma ausência de tristezas, então talvez, apenas talvez, seja isso, talvez seja felicidade. Se deixarmos de lado o que nos atribula, a falta de vontade para coisas do cotidiano, os esforços difíceis demais mas que são necessários apenas para sobreviver, então o que vivemos entre uma coisa e outra, seja realmente felicidade. Felicidade que mascara a procrastinação, a energia insuficiente para reagir ao decorrer do dia, ao senso de responsabilidade até mesmo pelo que não podemos controlar, enquanto vamos vivendo, atravessando os dias como se o anoitecer fosse capaz de expurgar os acontecimentos e presságios sendo que o novo dia trará apenas mais do mesmo.
Por alguns momentos conseguimos nos sentir relativamente bem, aliás, bem mesmo, dispostos, animados, “felizes “, esperançosos… mas, quantos de nós, hoje ainda, vemos que alguns gatilhos são poderosos e despertam rapidamente o sentimento de desvalia, de insuficiência?
Por mais que saibamos que é normal nem sempre nós conseguiremos fazer tudo ou manteremos a energia sempre elevada, certamente, em alguns momentos ainda nos sentiremos esmorecer, e quando nos deparamos com o que ainda nos limita e com o que nos sinaliza uma possibilidade de não sermos queridos, de não sermos amados e de não sermos especial. Essas coisas nos gastam, nos desanimam e nos mostram como podemos ser vulneráveis ao que nos prendem.
Ainda que os dias sejam de inverno, os finais de tarde me trazem já a melancolia do verão, que tão conhecidamente me transportam pra lugares e lembranças que me abatem… Talvez o certo a se fazer seja apenas nos permitir sentir o que há pra sentir enquanto reorganizamos os sentimentos e, principalmente, os pensamentos.
Digerir as emoções que nos alimentam e manter dentro de nós somente o que nos dá energia.
Quantas pessoas cabem na sua solidão? Quantas pessoas preenchem o seu vazio? Quantas pessoas escutam o seu silêncio?
Talvez a pior parte de ser consumido pela tristeza não seja a tristeza em si, mas a falta. A falta de vontade, a falta de interesse, a falta da confiança e a falta da esperança.
A falta da vontade de se preencher daquilo que costumava te tornar completo. A falta de interesse em se dedicar aquilo que te estimulava. A falta de confiança nas pessoas que te cercam e que são sempre, via de regra, incapazes de compreender o que se passa, nem sempre por não quererem, mas por vezes por não terem o olhar voltado para o outro. A falta de esperança de que, no final, as coisas melhoram, se recuperam, se fortalecem, afinal o que é a esperança e qual seu lugar frente a uma vida inteira?
O que consome não é a tristeza é a dúvida do que ela nos diz, de onde vem, do seu porque. O que consome é saber que o ciclo continua e continuará e que nada de novo cairá no seu caminho.
São gritos mudos que quando fomos capazes de vocalizar chegam em ouvidos surdos então de que adianta gritar?
Não te entregue aqueles que te estendem a mão.
Não tomes por certo quem te sorri.
Pois um sorriso pode esconder mil segredos
e a mão estendida pode ser a que te fará cair.
Não te abras feito um livro que é bom.
Não confie naquele que adentra teu lar.
Sua história pode virar conto em outras línguas
e a confiança, combustível para lhe queimar.
Não te alegres quando for lembrado.
Não se deixe levar pelo carinho alheio.
A lembrança é semente que germina o terreno
e o carinho é disfarce para o real anseio.
Não te faças no direito da liberdade.
Não coloque teu peite no que expressar.
A fala que teces pode ser um veneno
e o teu sentimento o que vai te depredar.
Não te entregues, não te abras.
Não te alegres, não te faças.
A verdade do outro acaba,
vai até onde os seus olhos podem ver.
Se confias no outro o que é seu,
o arrependimento é o prêmio que vais ter.
Eu sonhei demais?
Será que fiz das nuvens, minha casa
E das estrelas, companhia?
Do céu, minha morada
De onde, sonhar era o que eu fazia?
Será que mirei no sol,
Mirei na lua ao anoitecer?
E construí meu conto de fadas
Sob a areia que só faz ceder?
Será que meu alimento, que era esperança, não valeu de nada?
Será que eu fechei meus olhos ou que me deixei ser despedaçada?
Será que eu sonhei demais?
Será que o que desejei e acreditei não existe no mundo?
E que o que a minha história é rasa e não encontra o que é profundo?
Será que eu desenhei o meu destino em cores, versos e canto,
mas que a vida que me foi dada foi rascunhava em preto e branco?
Será que fui eu quem errou ao alinhar as expectativas?
Ao achar que o caminho seria repleto de flores vivas?
Será que a culpada fui eu por levar a certeza de que eu merecia… quando não verdade sou eu a causa do luto no dia a dia?
Será que é isso mesmo e que a vida é um projeto de médio resultado e que não adianta querer, no final de tudo, o pote dourado?
Ou será que fui eu quem pensei que não seria nada demais e que hoje recolho os frutos amargos, por sonhar demais?
Talvez, só talvez a vida seja isso mesmo… Um emaranhado de desejos e vontades e sonhos que apenas existem pra nos mostrar que há um limite.
Talvez a vida seja isso mesmo… Um eterno comparar de realidades em que nós nos perdemos imaginando “como seria se” e agradecendo “por não ser pior”.
Em tudo o que vivemos existe esse limbo, da insatisfação pelo que não temos, pelo que sabemos que nunca vamos ter e a gratidão pelo que não precisamos viver, nos submeter, pelo que escapamos dessa vez.
Sim… insatisfação pelo que sabemos que nunca vamos ter, pois apesar do que nos dizem, do que nos contam as línguas otimistas, nem tudo seremos capazes, nem tudo alcançaremos, alguns sonhos existem apenas para serem sonhados, mesmo que mudemos seu nome para metas e objetivos, alguns destes existem somente para nossa íntima frustração.
E tudo bem…
Tudo bem?
Tudo bem na conformidade de sabermos e entendermos que cada um tem um papel. Parece que o destino (Deus, talvez?) já escreve nossa história desde sempre e, para alguns as páginas vem com mais céu azul, com mais natureza, mas risadas, mais oportunidades, menos preocupações, pelo menos com o que é básico na vida da maioria. Para alguns há tempo, não há relógio soprando o passar das horas com tanto rigor e nem o peso de decisões diárias que roubam pouco a pouco a alegria do dia.
Só para alguns, as páginas estão repletas de lado B, de opõçes, de caminhos infinitos… E para outros, a maioria, parece que o destino (Deus, talvez?) caiu na monotonia do escritor enfadonho e apenas repetiu as frases que ocupam as linhas, sem a criatividade ou a generosidade que teve com os protagonistas, fazendo a grande massa apenas espectadora, por vezes sonhadora por vezes esmagada pela realidade das páginas preenchidas com mais do mesmo e permeada pelo tal limbo citado acima.
Quando a menta questiona muito o coração fica confuso, o peito pesa e a mente voa… Voa nas possibilidades que o pensamento traz mas se aprisiona ao encarar a verdade absoluta de que talvez, talvez a vida seja isso mesmo…
Você já parou pra pensar em como é fácil admirar alguém de longe?
Quando se mantém a pessoa em uma posição em que não é permitido se aproximar, desvendar as fraquezas, os medos, as intolerâncias. Quando o que se vê é somente uma versão editada, polida e idealizada, dessas que mostramos aos outros quando tentamos vender nosso melhor lado.
Difícil mesmo é admirar a pessoa quando se tem dela o que é real em sua essência, incluindo suas dores e dúvidas, seus momentos de intempéries em que o sorriso não é fácil e onde o que se apresenta é o lado grotesco, degenerado, que solicita, o lado que guardamos para aqueles que mais amamos, pois se nos amam, nos acolherão, mas será que essa tem sido a realidade?
A quem temos acolhido e quem tem nos envolvido quando o que temos é somente isso para ser?
O trânsito fora da normalidade, da beleza e da plenitude tão sonhada, tem implicado inevitavelmente na solidão que grita gritos mudos e que nos toca e estremece com todas as suas mãos.
Quando se tem o real, do dia a dia, com altos e baixos, qualidade e defeitos… Quando a balança dos prós e contras está equilibrada e não suspensa em uma realidade distorcida pela distância do que se almeja, aí sim é que reforçamos o vínculo em saber que se é amado mesmo quando não vemos motivos.
Ser perfeito e atraente de longe é simples.
Ser perfeito e atraente de perto é corda bamba.
Abraçar, respeitar e admirar o imperfeito e a falta de beleza que há nas pessoas, é ser empático, é ter caráter e coragem.
Isso, infelizmente, é tarefa para poucos.
Será que as pessoas já pararam para pensar na quantidade de esforço que é necessário para manter o foco, a energia e o estado de espírito elevado? Quando paro pra pensar, mas pensar de verdade, numa análise quase absurda, em detalhes dos motivos pelos quais fazemos o que fazemos, a conclusão inevitável é de que nada faz sentido e nada importa.
O que tem valor hoje, no mundo que vivemos, só tem porque um dia alguém disse que tinha. O que é considerado importante, também segue o mesmo padrão de definição. Então quando paramos e nos perguntamos o porque das coisas, vemos que estamos como hasmters correndo em uma roda que gira e gira sem chegar a lugar nenhum.
O mundo tem sido um lugar estranho (independente da pandemia), um lugar em que as coisas, por vezes, parecem invertidas. Em que pessoas boas sofrem e pessoas de caráter duvidoso tem êxito… Por isso, no início eu disse que é necessário muito esforço para se manter positivo e persistente, porque todas as indicações e avisos nos dizem para fazer o contrário.
A gente usa muita energia pra manter o olhar voltado pro que é bom e isso nem sempre é fácil, ainda mais quando a gente perde um pouco o significado do que porque manter esse olhar…